... ou A Arte da Fuga
Frank perde um filho, em consequência perde a serenidade, perde a mulher e a família, perde as ilusões de ser escritor, de ser alguém na vida. Temos a constante sensação de que este homem está na irremediável proximidade de perder o pé, de se afundar na depressão... Apesar disso, diz-nos continuamente que é feliz, manifesta um deliberado, mas falso, optimismo. "Há coisas piores", diz ele depois de contar algum dos episódios tristes por que passa, acrescentando sempre algo como "mas sinto-me bem!" Estabelece ténues laços pessoais e fala das suas mágoas de modo muito ligeiro, como se não doessem e é quase pela demasiada insistência no "sinto-me bem" que nós percebemos que nada está bem. Lida com o desastre procurando fingir que nada o toca, que em breve tudo passará e que será feliz. Agrada-lhe pensar assim, e ser um"jornalista desportivo" parece-lhe uma excelente profissão para alcançar tal objectivo: não se fala de nada a sério, nem é preciso escrever bem, pois há sempre alguém que vai reescrever o texto antes da impressão final, quer se queira quer não. Não há responsabilidade nenhuma - a não ser a de dizer o que os leitores possam querer ler. Niguém lhe exige grande coisa e Frank tem a ilusão de que tem uma vida. É um adulto à deriva, que se vai agarrando a pequenas tábuas para se sentir perto da salvação; que se tenta convencer, sem o conseguir, de que está quase salvo.
Lembra-me, no tom e no desespero, o personagem Holden Caulfield, do Catcher in the Rye ( de J.D. Salinger, traduzido em português como Uma Agulha no Centeio ou como à Espera no Centeio). Holden teria certamente crescido assim.
Nota: a tradução deste livro de Richard Ford é inimaginavelmente péssima, podia transcrever dezenas de barbaridades, quer por mau domínio da língua inglesa, quer por inépcia em relação à língua portuguesa - o que é pior ainda. É inacreditável que algumas editoras continuem a não ter vergonha de publicar coisas destas...
sábado, abril 22, 2006
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