sábado, agosto 26, 2006

Leituras antigas

Contes barbares, por Gauguin


O PAPALAGUI
discurso de tuiavii, chefe de tribo de tiavéa nos mares do sul (trad. Luiza Neto Jorge)

Este livro é uma reflexão de Tuiavii sobre a civilização branca (apesar de Tuiavii ser contra “ a grave doença “ de “pensar”). Tal reflexão (ou reflexões, melhor dizendo) é o resultado de uma visita a este mundo tão distante de Samoa, bem como do contacto com o “papalagui” nas ilhas dos mares do sul.

Se algumas das críticas podem ser consideradas ridículas a nossos olhos, outras há que são de uma pertinência penetrante e outras ainda tocam tão fundo a essência da nossa civilização que, a aceitá-las, não ficaria pedra sobre pedra.

Uma das mais curiosas, a meu ver, é a crítica feita ao cinema (que eu estendo, por analogia, ao teatro e à literatura). Numa coisa tem o chefe Tuiavii razão: “ a vida na Europa não pode existir sem aquele lugar onde se simula a vida”. Esta forma de arte – e todas as outras – servem-nos de escape à forma ridícula de vivermos. Tem razão Tuiavii quando se surpreende com a identificação do espectador com o filme, a qual chega frequentemente à acefalia acrítica. Sem dúvida, a maior parte dos filmes mais não querem do que isto – demasiado pouco. E foi só isto que Tuiavii viu.

Porém, a evasão a que a arte convida, a verdadeira arte, não é assim tão passageira. Implica uma evasão mental activa da realidade, ajudando-nos também, quantas vezes, a modificar a vida e a aproximá-la (dentro do possível) do ideal de Tuiavii.

2 comentários:

Rita Oliveira Dias disse...

Tambem li este livro, talvez há mais de 10 anos. A escolha de Gaugin tambem é engraçada porque andei a ler sobre ele. Não era propriamente um "bom selvagem" mas tambem cativou os ocidentais do seu tempo com imagens de um mundo ideal. Obrigada pelo teu comentário e até breve.
Abraço Rita

Bart Simpson disse...

já lá vão uns bons 20 anos quando o li e achei altamente interessante e recomendável. Ás vezes, a vida é complicada demais...