segunda-feira, agosto 21, 2006

Uma Brincadeira de Mau Gosto

Hoje, correndo o risco das irritações morais que me costumam acometer quando tomo estas raras decisões, pus-me a ler o expresso, precisava de uma coisa que se lesse depressa. Para meu enorme espanto concordei inteiramente com o artigo de um senhor que sói causar-me dessas irritações: António Pinto Leite. Diz o homem:

“(…)o melhor método para um jovem aprender a escrever português é fazer, semanalmente, uma redacção e ter correcção personalizada. Ao fim de um ano os resultados serão muito impressivos. Procedi assim com os meus filhos e alguns sobrinhos, cheguei a corrigir uma dúzia de redacções por fim-de-semana dando notas a cada um, e verifiquei os progressos que fizeram (…).

Se cada aluno português escrevesse uma redacção por semana e tivesse correcção personalizda acabava o drama de tantos portugueses não saberem escrever português. Os temas devem ser variados, por vezes absurdos, de maneira a obrigar o jovem, antes de tudo, a pensar.

A redacção com correcção personalizada tem esse primeiro benefício, ajudar a pensar, a analisar, a aprofundar, a associar, a descobrir, a ler. Ensina a pensar escrevendo e a escrever pensando e estas capacidades fazem toda a diferença. Raramente com pouco treino de pensar se sabe escrever bem. A inversa já não é verdadeira, muitas pessoas pensam bem e, supreendentemente, escrevem mal. É comum encontrar licenciados que escrevem deficientemente.

Antes de saber escrever há que saber expor, saber estruturar o raciocínio, saber seleccionar as prioridades da exposição. Tudo isto se aprende. (…)

A correcção personalizda, que não dura menos de 15 a 20 minutos, permite , ao cabo de umas semanas, ter o diagnóstico completo sobre os vícios, as lacunas e as limitaçãoes do aluno e, assim, focar a terapia onde interessa.(…)

Uma coisa é certa: um sistema em que o aluno aprende os LUSÍADAS e não fica a saber escrever português parece uma brincadeira de mau gosto.”

Fim de citação da pág.14 do caderno principal do Expresso

Ora, é EXACTAMENTE isto que eu ando a dizer e a tentar praticar há anos. Sempre tive muitas dezenas de redacções por semana para corrigir, com o resultante acréscimo de trabalho aos fins de semana, mas os resultados viam-se de um modo tão simplesmente extraordinário, que era um prazer fazê-lo. Agora, que sou professora de montes de disciplinas (ao gosto dos diferentes ministros), que tenho que preparar aulas de Apoio, Estudo Acompanhado, Área de Projecto, Clube de Teatro, Aulas de Substituição, para além das de Língua Portuguesa, não tenho tempo para fazer o essencial e isto deixa-me triste, porque profissionalmente era isso que eu fazia bem feito e já não tenho tempo para fazer. Como eu, muitos outros - e duvido que o ensino esteja a melhorar com tantas mudanças acessórias, esquecendo-se o essencial.

4 comentários:

Anónimo disse...

Como eu te entendo...subscrevo inteiramente!!
duca

Anónimo disse...

mi tu

Anónimo disse...

Subscrevo quase inteiramente...

não fosse o facto de numa disciplina como estudo acompanhado se poder realizar um ou diversos projectos específicos de aperfeiçoamento de ténicas de trabalho. Escrever, creio eu, envolve diversas técnicas, que poderão, sem dúvida, ser trabalhadas na disciplina, já que será um paço fundamental para que um aluno possa criar métodos autónomos de estudo.

Numa disciplina como Área Projecto, que poderá e deverá desde o inicio ser enquadrada no Projecto Curricular de Turma (PCT) - sendo que o mesmo pode incidir sobre as dificuldades no processo de escrita entre outras prioridades -, é possível criar projectos anuais que envolvam diversos trabalhos e diversas áreas do conhecimento, trabalhando a escrita.

Conheço diversos projectos desenvolvidos nesse sentido, em que foi obtido um elevado sucesso.

Este longo texto não pretende minimizar o trabalho da colega, que, pelo que pude entender, me pareceu pretender e já ter conseguido os melhores resultados, mas apenas lançar uma pequena discussão relativamente a estas duas disciplinas, que julgo menosprezadas (muito provavelmente, pela falta de enquadramento e formação específica relativamente aos seus objectivos com que a maioria dos docentes foi confrontada aquando do seu aparecimento).

Anónimo disse...

Percebo-a completamente, também a mim o tempo me falta para o aprofundamento de certos projectos com os alunos.

E meu Deus, como a burocracia se instala cada vez mais implacavelmente nas escolas, e como alguns colegas a defendem, e... Ai!

Continue, pois...