quarta-feira, novembro 15, 2006

Metáfora













Voando sobre um Ninho de Cucos (1975), de Milos Forman


Por aqui perto não há grande cinema (ainda que haja grandes cinemas...) e na semana passada eu, a minha cara-metade e as gatas (grandes apreciadoras de cinema - ou será de donos sentados durante horas no sofá?...) vimos o "Voando Sobre um Ninho de Cucos" que encontrámos, não sem surpresa, num vídeoclube de Albergaria-a-Velha.

Confesso que as expectativas não eram muitas nem grandes, mas às vezes é melhor assim.
É um filme com várias leituras possíveis, sendo uma das mais interesantes o facto de constituir uma excelente metáfora sobre a liberdade: há os que estão no manicómio porque assim alguém decidiu por eles e nem sabem bem que estão lá; há os que escolhem estar "presos por vontade" (como diria o Camões); e há o que não quer estar preso e procura mostrar aos outros o que é a liberdade, sendo vítima da sua loucura (prometaica?). No interim, contagia com esse desejo de liberdade o mais confinado, ainda que o mais livre de todos: o "selvagem" índio de quem nada se espera, porém o único que tem coragem para ser livre. A diferença entre o Índio e os outros parece ser a de aquele conseguiu manter o seu espírito sempre livre.

Pode alguém que sempre viveu com cadeias na mente ser livre algum dia? É esta uma das questões que o filme coloca: Billy é livre de sair quando quiser, mas não é capaz da abandonar as certezas e a rotina do dia-a-dia monótono e certo como a morte no momento em que a liberdade lhe é oferecida numa bandeja. O medo das consequências do desafio que constituirá a sua atitude atam-lhe a vontade. Acobarda-se. Quem vê o filme fica desiludido, não era para aqui que a narrativa nos parecia querer levar, queríamos um fim mais optimista. É que se pensarmos no que acontecerá ao bom selvagem que se evade, acabaremos por não ver um futuro assim tão radioso nessa sua opção.

A liberdade será um beco sem saída?

P.S. Filme a rimar com o magnífico "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley.

1 comentário:

Kaos disse...

Já vi esse filme há muito tempo, na altura em que chegou às salas de cinema. Gostei imenso nessa altura e já tinha pensado que seria bom reve-lo, embora muitas vezes se torne uma desilusão pois a imagem com que ficámos não se ajusta aquilo que agora vemos. Mas, depois de ler o teu post vou mesmo meter o DVD no leitor.
bjs