A propósito de um comentário do Kaos ao poste anterior.
Existirá tal? Vivi quase toda a vida no Porto, conhecia o Minho e o Marão e fui primeiro à “estranja” do que ao Sul de Portugal. Lembro-me perfeitamente de explicar o que era um português, como vivia, como se comportava em situações – tipo. Tinha tudo em caixinhas e não era assim tão complicado falar deste assunto a espanhóis e a alemães.
Mas também me recordo de que as caixinhas ficaram completamente desarrumadas consoante as sucessivas férias me foram levando cada vez mais a Sul. Quantas vezes dei comigo a pensar: ‘determinada característica não é portuguesa, é do Porto [sentido lato – eu vivia em Gaia, mas quem gravita à volta da cidade do Porto, quando está fora, diz sempre que é do Porto, não sei se acontece o mesmo a quem reside, por exemplo, na Amadora, mas gostava de saber]! Afinal, os portugueses não são ASSIM. Estes portugueses são muito diferentes dos portugueses que eu conheço.’ Ora, confesso que isto me causa alguma inquietação.
Um lisboeta, um alentejano, um transmontano, um portuense, um minhoto, serão todos portugueses da mesma maneira? O que raio é um português?
4 comentários:
Ser português ou espanol, ou outra coisa qualquer tem a ver com uma identidade cultural que é por nós apreendida ao longo do nosso crescimento e que depois se prolonga pela vida fora. É ver o campeonato do mundo e dizer que aquela é a nossa selecção, querer que ela ganhe e não a outra. É um estado de espirito.
Talvez neste mundo globalizado se vá perdendo muito desse sentido de nacionalidade, o que até pode não ser mau se isso criar em cada um de nós um cidadão do mundo.
Eu, sou português, sinto-me português e penso que gosto de ser português. Porque? Nem sei muito bem.
bjinhos
Alguns historiadores espanhóis apelidam a existência de Portugal como um erro histórico. De facto, geograficamente o território português não tem unidade: o sul é igual à Andaluzia, o Minho igual à Galiza e assim por diante. Geneticamente, o português do sé. XII era igualzinho ao galego e ao castelhano. Historicamente, tudo parecia para o domínio da Península Ibérica por parte do poderosíssimo e central reino de Castela, aglutinando na Ibéria uma quantidade de sub-culturas identificadas com uma forma de ser e estar que apesar de tudo é semelhante (estou-me a lembrar da Jangada de Pedra do Saramago).
Então, somos independentes porquê? Tão simplesmente, porque o quisemos e porque o conseguimos ser. E derramámos muito sangue para isso...
Onde estão: os Bascos?
............os Galegos'
............ os Catalães?
............ os Normandos?
............ os Borgonheses?
............ os Escoceses?
............ os Galeses?
............ os Bávaros?
............ os Frígios?
............ os Lapões?
..............................etc.
só que minhoto e alentejano é tudo farinha do mesmo saco. todos os defeitos e vícios estão lá, as virtudes também, basta olhar para são bento e ver que das ilhas ao continente é tudo igual. a formação é em tudo idêntica. apenas muda a confecção dos pratos. uns comem açorda e outros papas e há quem prefira uma boa chanfana. mas ninguém dispensa uma boa chouriça/linguiça com sangue.
Só me ocorre este tipo de definição que não ajuda muito: ser português é não ser de outra nacionalidade.
Nenhuma nacionalidade é homogénea, todas elas são um misto de muitas coisas, que, ainda por cima, variam ao longo dos anos e segundo a perspectiva de quem a vê.
Por isso os brasileiros dizem que os portugueses mudaram muito nos últimos 50 anos e dizem de nós coisas, boas, que andávamos longe de pensar.
É como um inglês - para o definir somos bem capazes de meter no mesmo saco as saias da Escócia, a poesia do País De Gales, as sardas irlandesas e quem sabe os cangurus australianos.
Giros devem ser os brainstormings da equipa de criativos que anda a tentar definir, para depois vender, a marca Portugal. Quando chegarem a um consenso já a Madeira é independente, os Açores rumaram ao Canadá e o Sócrates manda a declaração de impostos a Madrid por mail...
Mais do que orgulho em ser portuguesa queria não ter razões para sentir vergonha.
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